Enfermeiros protestam contra a precariedade e pedem mudanças na carreira


"Cerca de mil enfermeiros concentraram-se esta manhã em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa. Criticam a precariedade no sector e a falta de enfermeiros nos hospitais, além de exigirem um calendário negocial sobre a nova carreira de enfermagem.


A ministra da Saúde já marcou o início das negociações para meados do mês, mas ainda não apresentou qualquer proposta aos enfermeiros. Profissionais de todo o país deslocaram-se à capital para lembrar que o prazo está a terminar para o início das reuniões.


A vice-coordenadora do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses lembrou que faltam 21 mil enfermeiros nos hospitais e de 5.00 nos cuidados de saúde primários, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Gaudalupe Simões considera, por isso, “incompreensível que existam nas instituições portuguesas sete mil enfermeiros em condições precárias e 2.500 enfermeiros que ainda não conseguiram o primeiro emprego”.
O sindicato dos enfermeiros exige a admissão dos profissionais “nos serviços porque, de facto, estão a fazer face a necessidades permanentes dos serviços e é incompreensível que continuem nesta situação de precariedade”.


“Há 10 anos que há enfermeiros admitidos em situações precárias com contratos de trabalho a termo ou a recibos verdes e até há quem seja admitido nas instituições para voluntariado. Por isso esperamos que a ministra consiga encontrar uma solução para minimizar e resolver a situação dos trabalhadores”, acrescentou Guadalupe Simões.
De acordo com a sindicalista, esta situação “provoca falta de segurança nos cuidados dos utentes e insegurança entre os profissionais, que muitas vezes estão sozinhos nos serviços”.


Enfermeiros querem receber de acordo com evolução de competências


O segundo motivo dos protestos dos enfermeiros reside no reconhecimento salarial da formação dos profissionais, pedido desde 2005. O grau académico de licenciado é conferido desde 1999, embora esta formação ainda esteja reconhecida quando respeita ao pagamento de salários.
Isto significa que os enfermeiros em início de carreira auferem cerca de 900 euros por mês, quando deveriam receber um salário de cerca de 1.300 euros. Além da desigualdade entre o grau académico e o salário, os enfermeiros querem uma proposta da tutela para a evolução na carreira.
“Queremos um modelo de carreira que permita pagar mais e melhor aos mais competentes, ou seja, que o salário seja associado à aquisição e desenvolvimento de competências”, afirmou o Coordenador Nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. Segundo José Carlos Martins, “existe mais de um milhar de enfermeiros que são especialistas mas que não recebem como tal”, porque não abriu qualquer vaga ou porque não houve concurso.
Tutela recebeu representantes de enfermeiros que ameaçam com greve
Dois representantes do sindicato dos enfermeiros estiveram reunidos, durante cerca de duas horas, com o chefe de gabinete do Secretário de Estado da Saúde. “O chefe de gabinete do dr. Francisco Ramos prometeu que na segunda quinzena de Junho começa a negociação da carreira de enfermagem e que vai apresentar uma proposta de princípios estruturante para a carreira”, contaram aos manifestantes após a reunião.
Se estas reivindicações não foram atendidas “este é o tempo em que tudo terá de ser feito para pressionar” o Governo, disseram os sindicalistas em cima de um camião, que serviu de palco para os protestos.
“Se calhar, Junho não vai passar sem que a gente volte aqui ao Ministério e teremos de radicalizar formas de luta porque agora vai definir-se o que nos vai acontecer nos próximos quatro ou cinco anos”, ameaçava José Carlos Martins.
Entre as formas de luta encontra-se a convocatória de novas manifestações e até a realização de greves." Fonte: RTP
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